Em entrevista, autora do capítulo 4 do Curso conta sua trajetória profissional em Educação Ambiental

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Dando continuidade às Formações de Conteúdo oferecidas aos supervisores, tutores e monitores do Curso, a autora do 4º capítulo do Curso, Andréa Paula de Carestiato Costa esteve no Núcleo Multiprojetos de Tecnologia Educacional – NUTE, em Florianópolis, no dia 24 de março, para falar sobre “Educação Ambiental no Trabalho Social”.

 

Andréa é bióloga e mestre em Ecologia Humana e Psicossociologia de Comunidades pela UFRJ. Atua como Técnica Especialista em Educação Ambiental do Departamento de Educação Ambiental (DEA) da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC) do Ministério do Meio Ambiente. Possui experiência em projetos e programas na área de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Desenvolvimento de Capacidades para a Gestão Integrada de Recursos Hídricos e Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, atuando transversalmente com os temas de educação ambiental, desenvolvimento sustentável e resíduos sólidos, educação relacionada à temática ambiental e avaliação de projetos governamentais socioambientais.

 

Na entrevista abaixo, ela conta sua trajetória profissional, experiências, dificuldades e contribuições da Educação Ambiental em programas de habitação.

1) O que levou você a trabalhar com Educação Ambiental? Quais foram as suas motivações e como foi sua trajetória profissional?

 

Foi algo que fluiu na minha vida pessoal e profissional. Desde jovem, em meus 18 anos, a busca pela democracia nos anos 80 incluía o desejo de ver as pessoas falando sobre sua qualidade de vida, a responsabilidade sobre a questão ambiental, a necessidade de incluir esta dimensão nas políticas públicas… enfim, ser bióloga para mim era falar às pessoas sobre esses temas. Trazer o meio ambiente para o centro da mesa das atenções sociais e econômicas. A Educação Ambiental (EA) sempre se propunha a isso: ser politizadora e mudar a realidade a partir do sujeitos individuais e coletivos. Então, me tornei militante da causa, busquei os movimentos sociais e acabei por me envolver com a Política Nacional de Recursos Hídricos, a democratização da informação relevante e finalmente a sociedade civil fazendo parte da tomada de decisões, foram os motivadores em propor EA no contexto da gestão da água e mais recentemente, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos que traz a EA como instrumento da política. É a primeira vez que acontece.

 

2)  Como foram as suas experiências de aplicação da Educação Ambiental relacionadas à habitação? Como você avalia essas experiências e o que você destaca como lição?

 

Uma vez inserida nos movimentos sociais, qualidade de vida é inexorável à meio ambiente. O conceito de morar envolve este fato. Morando em Brasília, trabalhando no poder público da União (Ministério do Meio Ambiente), comecei a me aproximar das políticas do MCidades de forma geral, primeiro saneamento por conta das relações óbvias com recursos hídricos; depois mobilidade urbana e transporte por conta do viés de deseconomias, ambiente urbano e o conceito de “ser urbano” e cidadania, até finalmente começar a discutir a IN no.8/MCidades trazendo a habitação e saneamento não dissociadamente, como ações  conjuntas sobre o significado efetivo de morar bem no contexto da habitação de interesse social. Em paralelo a essas experiências não-lineares, também passei alguns anos lidando com o convencimento e capacitação das prefeituras do Brasil todo para elaborar seus Planos Diretores Municipais Participativos, onde o debate sobre habitação é essencial. Na verdade, minha experiência com a EA relacionadas à habitação tem sido na elaboração das políticas públicas, na convivência cotidiana de traçar a integração dessas políticas lidando com os movimentos sociais e ao esforço de realizar o desenvolvimento sustentável do país.

 

A lição é simples: vivenciar o conceito de viver bem, envolve a condição de cidadania. Cidadania é um sentido central da EA. Quando descobrimos que a EA é um eixo transversal do Trabalho Social (TS) em projetos de habitação de interesse social, tudo se junta e fica claro, demonstrando o que fazer a cada situação. É muito confortável assim.

 

3) Que transformações você observa que a Educação Ambiental gerou nas comunidades?

 

A EA faz parte de todas as etapas de implementação do empreendimento. Nesse sentido, é mais fácil por conta do Manual, observar como e quando a EA vai se instalando, se transversalizando até ficar muito difícil dizer o que não é ou o que não faz parte da EA no TS.  É magnífico esse efeito, pois se imaginarmos como é difícil, complicado e desgastante lidar com toda a complexidade humana em situações que podem ter conflitos e mediá-los é muito desafiante para o TS. Contudo, a beleza está justo neste processo de mobilizar, esclarecer, democratizar junto as comunidades. É algo efetivamente transformador de pessoas e situações. É árduo, mas uma vez realizado o TS com a contribuição da EA realmente muda uma realidade desfavorável.

Mas vale a pena destacar ainda, que mesmo depois que acaba essa fase, o condomínio não prescinde de gestão. Ai começa um processo de construção maravilhoso das pessoas ao descobrirem o que desejam como qualidade de vida e e se juntam para elaborar um plano que viabilize suas aspirações. Nesse momento a EA é indiscutivelmente essencial, pois estas coletividades terão que viver em uma nova situação que depende fundamentalmente delas mesmas. É autonomia, um princípio da EA. Com ela,  se constrói a transformação da realidade e se der certo ou errado, sempre será um resultado emanado das pessoas que ali vivem. Este fato é verdadeiramente transformador.  É um fato. Não é romantismo, ideologia pueril como tantas vezes ouvimos no passado quando a tecnocracia impedia as pessoas de serem elas mesmas. Tenho muito orgulho da EA fazer parte desse momento, pois eu acredito em mudança da realidade como algo emanado das pessoas, pelas pessoas e para as pessoas!

 

4)  O que você identifica como maior desafio e a maior dificuldade na abordagem da Educação Ambiental nos empreendimentos do Minha Casa Minha Vida?

 

MCMV é revolucionária no Brasil. Um projeto audacioso do Governo Federal que deseja diminuir o déficit de moradia para milhões de brasileiros em pouco tempo, considerando as dimensões e complexidades do país. Por si só, eis o desafio: simultaneamente muitos projetos estarão acontecendo. Precisamos de equipes de TS muito bem constituídas e capazes de dar conta do significado do TS nos empreendimentos como algo prioritário e indispensável.  Portanto, a escala  e intensidade do TS nunca foi tão grande e neste bojo, a EA, com toda sua história, patrimônio de experiências e marcos legais, ainda é marginalizada como um assunto menor no contexto das obras; seus projetos são tidos como ações complementares, com impactos discretos, que devem ter custo baixo, evitar conflitos, na verdade cumprindo um papel meramente formal mas que gerasse uma boa imagem.  Essa é a descrição que poderia ser feita em muitos casos, certamente uma grande dificuldade: superar o preconceito, a simplificação reducionista de uma ação estratégica transversal de todo o empreendimento para um projeto isolado e circunscrito à  formatos padronizados como fazer palestras em escolas e distribuir folders.

A outra parte dessa resposta poderia ser: mas como superar esse quadro lamentável? Eis um importante desafio. A aula do capítulo 4 do curso já um exemplo prático de como o próprio Governo está tomando inciativa para dar visibilidade ao tema, restaurar sua significação nas políticas integradas como a de Habitação e oferecer insumo, subsídio, capacitação, referências, experiências, enfim, um cabedal de oportunidades para que os atores sociais implicados no MCMV se reposicionem em relação a EA, dando-lhe o espaço e reconhecimento positivo de sua condição como eixo do Manual, como ação estruturante  do TS e no pós-obra, elemento indispensável na continuidade pela busca de bem estar e qualidade de vida. Acho que seria por ai.

Esperamos que essas práticas se disseminem e se fortaleçam nos diversos âmbitos institucionais que estão relacionados, como a própria Caixa, as prefeituras e os empreendedores, investindo em equipes técnicas de TS bem assentadas com a EA, elaborando material pedagógicos de referência e divulgando as práticas de EA pelos projetos no Brasil. São algumas idéias. Há mais, sempre poderemos aperfeiçoar o que está dado. Trocar idéias, desenvolver redes e compartilhar também devem contribuir para os avanços necessários.

 

5)  Como você considera que a Educação Ambiental contribui para a percepção de cidadania e de sustentabilidade dos envolvidos nesses empreendimentos?

 

Como já disse antes, EA é uma aspecto essencial da cidadania. Tudo que é realizado em EA contribui para esta percepção. No caso dos empreendimentos, os aspectos do dia-a-dia das pessoas vai se configurando na gestão dos resíduos sólidos, no acesso à água e ao esgoto, na presença e convivência nas áreas verdes dos condomínios, nos aparelhos urbanos como parques, praças e mesmo quadras de esporte devem ser arborizados, convenientemente para gerar, por exemplo, conforto térmico nos condomínios. Re-uso das águas servidas, energia fotovoltaica (luz solar) e hortas orgânicas são todos exemplos de atitudes coletivas para a sustentabilidade, contudo poderíamos chamar de ações inteligentes também.  Se o empreendimento em seu projeto inicial já buscar dar oportunidade de instalar tecnologias de boas práticas de sustentabilidade, vamos dar passos largos nesse sentido de “normalizar” estas práticas sem precisar destaca-las como EA. Isso é um sonho…

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4 Respostas

  1. Concordo com a autora ,onde precisamos pensar a ocupação das moradias do MCMV de forma ampliada como re-utilização das águas servidas, energia fotovoltaica (luz solar) e hortas orgânicas não só de forma individualizada,mas coletivas para a sustentabilidade, tecnologias de boas práticas de sustentabilidade, e não acredito em sonhos estes podem e devem ser reais,o q falta é investimento em gestão publica seria.

  2. Paulo Nascimento

    Em nosso município especificamente no projeto MCMVR procuramos trabalhar a capacitação doa nossos beneficiários com o processo de reciclagem. Esse processo foi trabalhado no sentido de que as casas iriam utilizar esse equipamentos que duram mais do que a vida dos próprios proprietários. Foram produzidas cadeiras e lixeiras de pneus que não eram mais utilizados pronto para serem reciclados, o aproveitamento foi tão bom que os beneficiários estavam pensando em montar uma cooperativa de reciclagem de pneus para produzirem cadeiras e lixeiras para toda a cidade.
    O Minha Casa Minha Vida é real e concordo plenamente que não devemos pensar mais só em “uma casa muito engraçada” precisamos contribuir com o processo de sustentabilidade Ambiental do PMCMV.

  3. enfatizo sobre os empreendimento do PMCMV na Bahia, fomos beneficiados com um grande número de habitações na região, e na maioria não foi pensando e nem planejado em área verde. As casas nas construções de vilages são uma grudada com outra sem circulação de vento. As caixas de esgotos são minusculas e no primeiro mês de uso são entupidas. É preciso ser levado à sério a questão ambiental, deve ter um trabalho pre-ocupação para trabalhar com os proprietários sobre a questão da economia da água e da luz e da importância.

    • No nosso Município o projeto MCMVR, temos como objetivo trabalhar a conscientização dos Beneficiários sobre reciclagem de lixo, esperdiço de água junto ao meio ambiente, só que são residencias grudadas uma nas outras sem um espaço digno para as crianças possam andar; com isto acontece os conflitos com os vizinhos. Ainda com toda estas questões em lugares distante , onde não tem oportunidade de emprego.

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