Entrevista com a professora Ruth Jurberg, autora do capítulo “Desenvolvimento Socioeconômico”  

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A equipe do curso do MCIDADES recebeu uma formação sobre o capítulo 3 do material didático do Curso. Essa formação foi organizada pela coordenação do projeto e oferecida pela própria autora do capítulo, a professora Ruth Jurberg.

 

Arquiteta e urbanista formada em arquitetura em 1984, com pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional da FAU-UFRJ e pelo Institute for Housing Studies, Rotterdam Holanda, a autora desde 2012 coordena o PAC 2 das comunidades do Complexo da Tijuca, Mangueira, Rocinha, Lins e Jacarezinho no Rio de janeiro. Leia a entrevista completa a seguir.

 

1) O que levou você a trabalhar com o PAC Social? Quais foram as suas motivações e como foi sua trajetória profissional?

 

Minha trajetória de trabalho iniciou em 1983 quando, ainda estudante, resolvi seguir  carreira na área de planejamento urbano. Comecei trabalhando em cadastramento de moradores de favelas para um programa de Regularização Fundiária chamado “Cada Família um Lote”. Desde esta época, como funcionária da CEHAB-RJ, trabalhava próximo às equipes de assistentes sociais e sociólogas. Em 2000, fui convidada a assumir o cargo de Secretária de Planejamento e Habitação de um municipio da baixada fluminense chamado Magé e de lá também como Secretária Municipal trabalhei em Belford Roxo e Nova Iguaçu.

 

Em 2004 fiz MBA em Políticas Públicas com enfoque na área social. Mas a principal mudança ocorreu em 2007-2008, quando fui convidada a assumir a Coordenação Geral do Trabalho Social do PAC nas comunidades do Complexo do Alemão, Manguinhos e Rocinha. A partir deste momento, entendi que sem o diálogo permanente com moradores das comunidades, não conseguiremos avançar num processo amplo, participativo e transparente.

 

2) Você teve contato direto com alguns projetos de qualificação profissional, empreendedorismo, apoio e encaminhamento ao trabalho nos territórios do PAC. Como foi atuar nessas comunidades? Como você avalia essa experiência?

 

Nossa experiência nesta área temática se deu no ámbito do PAC Social. De acordo com o Ministério das Cidades, pelo menos 2,5% do recurso total deve ser investido no Trabalho Social. Entendo que não há como pensar em desenvolver de forma sustentável uma comunidade sem trabalhar aspectos fundamentais que efetivamente tragam melhorias, não somente da moradia em si, mas também da renda, da formação dos indivíduos, para que possam se transformar em agentes destas áreas. A experiência foi bastante rica e diversificada. Mas o melhor para mim foi a possibilidade de trabalhar em processos de qualificação e de formação a partir das potencialidades e vocações de cada área, com ONGs e parcerias locais. Este resultado foi bastante positivo.

 

3) Você observou transformações nas pessoas e nas comunidades a partir do trabalho que desenvolveu nesses projetos? Como é ver os resultados concretos desse trabalho?

 

Quando vejo antigos moradores que inicialmente tinham boas ideias, mas nenhum recurso para seus projetos, e hoje estão avançando em conquistas e novos projetos, multiplicando ideias e contratando mais e mais moradores para desenvolver o trabalho, tenho a certeza de ter optado  pelo caminho correto, mais difícil, mas mais gratificante.

 

4) Quais as principais dificuldades que você encontrou e como você as encarou? Como elas te ensinaram e fortaleceram o seu trabalho?

 

A principal dificuldade que encontrei inicialmente foi a falta de credibilidade da população na proposta do Governo. Quando compreendi que a ausência do Estado naqueles lugares por tanto tempo gerou desconfiança, não de mim, mas da proposta, segui com a certeza que, baseada na verdade dos fatos, iríamos vencer e avançar. Outro aspecto importante que também nos trouxe dificuldade foi que a entrada do Trabalho Social nestas áreas se deu antes do processo da pacificação. Muitos técnicos tinham medo de trabalhar em áreas com tanta violência, e vários desistiram no meio do processo. De qualquer forma, entendo este trabalho como uma missão na minha vida. Acredito que tenho a possibilidade de fazer diferente, de ajudar a transformar estes locais com obras e investimentos que o Governo do Estado do Rio tem feito, e de transformar pessoas, que passam a valorizar sua moradia, buscam mudar de vida, na perspectiva de um futuro melhor também para as futuras gerações.

 

5) A partir da sua experiência, o que você considera importante manter como foco ao realizar esse tipo de projeto?

 

O foco deve estar sempre nas pessoas. São centenas de histórias comoventes, de muita luta e dificuldade que estas pessoas passam na vida, mas com a parceria, o diálogo, a transparência e o compromisso, tenho a certeza que podemos avançar mais, melhorar mais locais e quem sabe fazer deste trabalho um modelo a ser seguido em outras regiões. Temos visitado várias comunidades, somos convidadas a contar esta experiência, inclusive para profissionais de outros países como Etiópia, Africa do Sul, Índia, representantes do Governo palestino, EUA, Venezuela, Argentina, entre outros.

 

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comentários

8 Respostas

  1. Celia Maria Gardiano Barbin

    Gostei muito da entrevista com Ruth Jurberg,porque fica bem claro que o diagnostico , a perseverança, transparência e principalmente ACREDITAR no que esta sendo desenvolvido. Só assim o Técnico Social passará segurança e conquistara a credibilidade para as pessoas voltarem a ter ESPERANÇA , que só assim juntos poderemos mudar, corrigir, alterar enfim FAZER A DIFERENÇA , para uma condição melhor , não so de moradia, mas de saúde, educação, transporte, através da conscientização, organização, união, manifestações e trabalho.

  2. Núbia Mendes Costa

    Experiências como estas relatadas pela professora Ruth Jurberg servem de exemplo e dão energia para que possamos enfrentar os desafios de estarmos permeando em territórios de área de risco.
    Como ela disse, muitas são as histórias e sempre comoventes.
    Nestes territórios encontramos pessoas de todas as índoles e podemos dizer que o risco é verdadeiro.
    Sem contar a localização geográfica que geralmente estão sediados. Temos aumentado este risco pela área de entorno.
    Mas, também sentimos gratificados quando temos a possibilidade de intervir promovendo melhorias para o território.
    Parabéns Professora Ruth!!!

  3. Heitor Thomé da Rosa

    A essência da entrevista da Profª Ruth aborda a questão de vencer a desconfiança das pessoas nos governos. Geralmente as pessoas estão cansadas das promessas e estas áreas de risco já serviram de muito palanque eleitoral. Outra questão e nossa capacidade e auto confiança de fazer a diferença na vida dos outros e principalmente de quem mais precisa do poder público.(em 29/04/14-Heitor)

  4. clara waidergorn

    Parabéns professora Ruth, se todas as intervenções nestes territórios tivessem a visão realista de seus problemas e superações, muitos equívocos seriam evitados. Sou Diretora social na Urbaniza e temos intervenções em todo território nacional, com culturas muito diversificadas e produtos iguais para diferentes modos de vida não se sustentam. Bom ter no RJ pessoas que conhecem a realidade das favelas cariocas. Abraços

  5. A principal dificuldade apresentada pela professora Ruth Jurberg foi a falta de credibilidade da população na proposta do Governo.Entendo que isto advêm por parte dos inúmeros governos que sucederam a praticas ineficientes,eleitoreiras,descontinuas ,e claro que a população se apercebe e aje de acordo com o tempo,isto irá refletir em desconfiança, desonestidades, onde cada um quer levar vantagem sobre o outro. Precisamos ter gestores e gestões que independente de partidos ,ideologias,crenças,sejam eficientes.

  6. Eliane Cristina Costa de Oliveira

    Entrevista muito proveitosa, um grande conhecimento a quem executa o TTS.

  7. Maria Lucilene de Lima Moraes

    Gostei muito da entrevista com a Prof. Ruth Jurberg, pois me deixou mais fortalecida e perseverante nas dificuldades que me vierem a surgir no decorrer da minha jornada profissional, pois sabemos que as dificuldades são grandes nessas comunidades, pessoas desacreditadas do poder público, e nós técnicos do Trabalho Social nesses ambientes tentaremos modificar a realidades dessas pessoas. Lucilene Moraes/ Assistente Social

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