Pedro Strozenberg, autor do capítulo 7, fala sobre experiência em direitos humanos e segurança pública e reflete sobre as violências nos territórios

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Pedro Strozenberg é autor do capítulo 7 – “Estratégia de Enfrentamento da Violência nos Territórios”. Formado em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro e doutorando na Universidade de Burgos (Espanha), tendo como área de estudo a Mediação de Conflitos Comunitários. Sua trajetória se caracteriza pela atuação e estudos na área dos Direitos Humanos e Segurança Pública no Brasil. Identificado pela participação no campo da sociedade civil, atualmente é Secretário Executivo do Instituto de Estudos da Religião (ISER), onde coordena pesquisas e estudos orientados sobre políticas sociais brasileiras.

 

Nesta entrevista, Pedro fala sobre sua atuação em organizações que trabalham com direitos humanos e segurança pública, modos para enfrentar as violências nos territórios e também comenta sobre o Curso e sua importância.

 

Leia a entrevista completa abaixo:

 

1)   Como foi sua trajetória profissional até chegar ao Projeto do MCIDADES?

O que caracteriza minha trajetória profissional é a atuação no campo da sociedade civil nos temas de direitos humanos e segurança pública. Fiz parte durante 15 anos do Viva Rio (uma organização do Rio de Janeiro) e depois de diversas outras entidades nacionais e locais, atualmente coordeno uma das mais antigas organizações brasileiras, com sede no Rio de Janeiro. Entre as agendas em que estou envolvido destacaria, por seu vinculo com o MCIDADES, mediação, polícia, juventudes e acesso a direitos. Academicamente tenho formação em direito, com ênfase em direito público.

Fiquei especialmente contente em participar do Curso MCIDADES e de alguma forma me abre novas reflexões e perspectivas. A qualidade dos professores e da equipe técnica do NUTE/UFSC me estimula a querer explorar assuntos como sociabilidades, intervenção urbana e o trabalho social, pois apesar de certa familiaridade com estes temas, alcançada pelo estudo e observação, ainda não havia feito este mergulho prático e reflexivo como este. Foi bom para ver como a temática das violências está totalmente inserida nas dinâmicas sociais dos territórios que recebem a intervenção da Secretaria Nacional de Habitação (SNH).

Assim, a pergunta também poderia ser que impacto em minha trajetória profissional o MCIDADES.  Me parece que há um campo importante de ser pesquisado e que demanda uma urgente e estratégica intervenção pública.

2)   Quais experiências durante a sua trajetória mais colaboraram para o processo de autoria do capítulo 7? Por quê?

 

Creio que a aposta em ações sistêmicas, integrais e transversais. Possivelmente os temas do capítulo 7 figuram entre os mais concretos e impactantes para as populações e para os gestores, pois afetam diretamente e cotidianamente todas as pessoas, entretanto ele também é dos assuntos mais fluídos e dispersos, pois exigem uma variação de fatores e atores para sua superação. Não há uma solução única e pronta, as questões são complexas e demandam respostas igualmente complexas.

Assim, entendo que minha trajetória forjada na pluralidade de temas, ambientes e atores, de alguma maneira ajuda a olhar para as questões das violências (costumeiramente são mais de uma) de forma plural e multidimensionada, permitindo uma leitura prática, mas também reflexiva do assunto. Assim espero.

3) Levando em conta as suas experiências, que estratégias você observa como as mais eficazes no enfrentamento da violência nos territórios? Por quê?

O Brasil é um celeiro de ideias e soluções geradas  localmente, que se completam com a formulação acadêmica e teórica. São as chamadas tecnologias sociais. Entretanto, estas iniciativas enfrentam, entre outros, 3 desafios: enfrentamento da escala, descontinuidade das políticas e precárias ações de avaliação e monitoramento. Assim, não é simples afirmar plenamente a eficácia de determinadas ações, mas a combinação de algumas iniciativas, sim, podem gerar um efeito positivo na redução das violências nos território, como: fortalecimento de grupos associativos locais e estimulo em treinamentos/capacitações e qualidade da informação gerada.

 

Importante que isso seja aplicado de maneira combinada entre ações de prevenção e repressão, que levem em consideração questões transversais como gênero e raça, bem como, na cultura latinoamericana, o território e a ação em redes de cooperação. Há muita informação e aprendizados disponíveis do que fazer, mas que irão se deparar com os desafios de como fazer, que depende fundamentalmente de cada localidade, ator envolvido e contexto. Bem, diria que a combinação entre participação, informação e treinamento servem como um bom princípio, aliada a uma busca permanente de gerar diálogos e conviver com a diversidade.

4) O que é importante ter como foco na hora de trabalhar a questão da violência com as comunidades dos territórios?

Há algumas “regras de ouro”, como buscar fazer uma boa análise do território, redes de cooperação, pessoal comprometido e qualificado e a disponibilidade de recursos financeiros e materiais.  A combinação destes elementos, associados ao tempo previsto de intervenção, irá lhe permitir delimitar o tamanho e objetivo de sua incidência. Assim, um dos pontos realmente importantes é planejar onde se quer chegar, com quem e como alcançar estes objetivos. Com isso,  quero dizer que os distintos tamanhos da intervenção são válidos e necessários.

Mas vale lembrar que os números da violência são altíssimos, não custa lembrar que o Brasil é recordista – em termos absolutos – de homicídios em todo o mundo, que tivemos mais de 50 mil casos de estupros no último ano e um crescente avanço das milícias. Neste quadro é inadmissível que não haja uma mobilização coletiva, de governos e sociedade civil, para superar estes tristes cenários.

5) Como você espera que o Curso, e o seu capítulo em especial, colabore para a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades?

O conteúdo deste Curso é uma ferramenta de provocação e reflexão ao gestor público, deve ser um patamar para que cada um avance naquilo que lhes pareça interessante e possível. É um conjunto qualificado de informações, mas que ganha forma no contato direto a partir do processamento desta informação ao seu universo concreto. Assim, para que o curso mude a comunidade, precisará primeiro mudar o gestor público, e eu acho possível.

Em relação ao capítulo 7, queria dizer que pessoalmente gosto do conflito, entendo que quando bem acolhido pode significar um caminho saudável de transformação. Além disso, reconheço nas violências um desejo de comunicação equivocado e péssimamente formulado, mas não, necessariamente, obliquo em relação a sua mensagem de transformação. Assim, o capítulo busca dar um sentido ao fenômeno das violências e algumas ferramentas possíveis de intervenção, me parece um passo fundamental.

Assim, me parece que foi bastante acertada a decisão da SNH de abrir este canal de reflexão em torno do tema das violências, reverbera uma demanda presente nos territórios e dos anseios dos técnicos sociais, e faltava espaços e materiais desta natureza. Me parece que o Curso é um relevante instrumento de fortalecimento e qualificação dos gestores municipais brasileiros.

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comentários

3 Respostas

  1. maria aparecida

    estou esperando a segunda chamada p curso, ate agora não comunicada.obrigada

    • Sistema de Acompanhamento ao Estudante

      Olá Maria,
      A segunda chamada de selecionados para o Curso de Capacitação Trabalho Social em Programas de Habitação de Interesse Social foi divulgada em nosso Portal no dia 6 de março de 2014, com matrículas previstas até o dia 10 de março de 2014.
      Ainda não há previsão de novas turmas e edições deste curso. Acompanhe o site do Ministério das Cidades < www.cidades.gov.br > e o site do NUTE-UFSC < www.nute.ufsc.br > para abertura de novas turmas do Curso de Capacitação Trabalho Social em Programas de Habitação de Interesse Social ou para outros cursos de seu interesse.
      Atenciosamente,

  2. Cristiane F de O Braga

    Adoro o tema Territorialidade e consigo pensar nele a partir do estudo cultural e estrutural de cada bairro. Penso que a violência é uma forma de controle sob o território. Psicológicamente, a ação violência é uma forma de negação dos seus deveres, uma busca de controle sobre o outro e empoderamento de sua opinião. Essa forma distorcida, coloca na violência o empoderamento dos seus direitos.

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